O bom gordo


Há algum tempo conheci alguém que mudou minha vida. Devo a ele, e a outros mais, a minha alma, por assim dizer. Ele se chama Gilbert Keith Chesterton. Quando o conheci me dei conta de minha pequenez, da minha falta de critério, da minha soberba, pois conheci um individuo que verdadeiramente chegou em sua sumidade. Desde pequena sonhava com uma carreira cientifica, e como era de se esperar, nos meus 18 anos, que agora me parecem tão longínquos, não tanto pela distância temporal, mas sim pelo que me transformei ao longo dos anos, busquei lograr esse objetivo. Entrei enfim na universidade de Ciências e Tecnologia na UFABC. Não durou muito, sequer consegui terminar o segundo semestre, mas dessa experiencia posso afirmar que a universidade, principalmente no Brasil, é uma completa fraude. Nunca conheci intelectuais verdadeiramente, todos almejavam empregos, cargos, e poder, mas não, a verdade não é o objetivo de um intelectual no Brasil. Talvez quem tenha passado pela mesma experiência note o quão as universidades estão repletas de professores partidários da esquerda, que pela "causa" mentem sobre a história, negam seus próprios olhos! A ciência, minha amada, há muito tempo deixou de ser a busca pela verdade. Há dogmas insolúveis, como uma nova religião bizarra, jamais alguém que queira ter uma carreira nesse meio deve ousar desafiar teorias como a da evolução, senão será achincalhado por todo o meio acadêmico. E não suportei viver nesse meio, confesso. Muitas vezes duvidei de mim mesma, porque o problema parecia eu, já que o resto dos meus colegas não viam problema nenhum em aceitar esses dogmas, e não parecia haver uma só alma com a "inteligencia" dos meus colegas e professores. Até que conheci o gordo. Apesar de possuir uma inteligência incomum, Chesterton não foi um bom aluno. Estudou no Saint Paul’s College. Péssimo aluno, um professor certa vez disse a ele: “Sabe de uma coisa, Chesterton? Se pudéssemos abrir sua cabeça, não encontraríamos o cérebro, e sim um pedaço de manteiga[1]”. O que o professor não sabia era que aquele jovem que se sentava na última fila tinha miopia e enxergava com dificuldade. Dotado de um talento literário extraordinário, ao longo de sua vida escreveu mais de 80 livros. Chesterton era um polemista nato, mas era sempre respeitoso e afetuoso com seus adversários. Não se tem relato de que seus oponentes tenham guardado mágoa ou raiva de sua pessoa. Nos debates sempre levava vantagem por sua clareza lógica ao demonstrar as incoerências dos oponentes. Tinha um humor elegante e refinadíssimo, e suas piadas causavam grandes gargalhadas na platéia. Travou discussões longuíssimas com diversos intelectuais de sua época, como Bernard Shaw, H.G. Wels, G.S. Street, etc. Tornou-se grande amigo de Hillaire Belloc, a quem estimava muito, fato que levou Shaw a apelidá-los de “monstro Chesterbelloc”. Fazia questão de caricaturar sua aparência e pessoa. Em todas as oportunidades que podia fazer uma piada sobre sua obesidade, fazia-o. Certa vez, quando lhe pediram para deixar publicar uma caricatura sua no G.K.’s Weekly, ele autorizou com uma condição: que ele aparecesse de costas, ordenhando uma vaca. Noutra ocasião, quando uma senhora havia lhe perguntado, enquanto ele caminhava pelas ruas de Londres, por que não estava na frente de batalha, ele olhou para a senhora e disse: “se olhar bem por este lado, verá estou.”. Numa conferência Chesterton disse aos participantes: “Quero lhes assegurar de que na realidade não sou gordo; é o microfone que está me amplificando [2]”. São muitos os relatos engraçados de sua vida. Suas obras ainda estão sendo traduzidas para diversos idiomas. No Brasil há algumas iniciativas que começam a ganhar maior visibilidade por meio do site www.chestertonbrasil.org, que possui como objeto: “reunir e difundir o pensamento de Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) no Brasil”.
Se Chesterton é ou não santo, somente a Igreja pode dizê-lo, mas se for válida sua máxima de que:

“o Santo é um medicamento, porque ele é um antídoto. Certamente é por isso que o santo é muitas vezes um mártir, ele é confundido com um veneno, porque ele é um antídoto. Ele geralmente será procurado para restaurar a sanidade do mundo, exagerando o que o mundo ignora, que nem sempre é o mesmo elemento em todas as idades. No entanto, cada geração procura o seu santo por instinto, e ele não é o que as pessoas querem, mas sim o que o povo precisa”.[…] Por isso, é o paradoxo da história, que cada geração é convertida pelo santo que contradiz mais[35].”

Esta pode ser aplicada a ele. Chesterton foi o paradoxo do seu tempo. Aqueles que o conheceram pessoalmente se encantaram com sua alegria e bom humor. Se for a vontade de Deus, teremos, em breve, mais um escritor católico beato. Se Chesterton caminhou pelas trilhas da heterodoxia, foi por um breve momento, o suficiente para sentir saudades do reto caminho: a Ortodoxia.

Eis um verdadeiro intelectual! E ele, com o seu livro "O homem eterno", realmente me mudou, amanhã falo sobre essa belíssima obra.


[1] PEARCE, Joseph. G.K.Chesterton: sabidúria e inocencia. Madrid: Encuentro. 2009. p. 34.
[2] Ibdem, p. 492.

Fonte: https://www.sociedadechestertonbrasil.org/chesterton/

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