Paradoxo

Me tranco no quarto: nada. Nem uma linha sequer sai da minha mente. A editora espera o livro há meses, começa a ameaçar um processo. Mas me tranco no quarto e não sai nada da minha mente: nada. Engraçado. Quero dizer, um processo não terá graça nenhuma, mas o fato de um escritor não ter criatividade e nem inspiração nenhuma é um paradoxo. Quase como... um músico que não sabe tocar instrumento nenhum. Se bem que, hoje em dia... Tanto é, que Eclipse faz sucesso. E rebolation idem.

De qualquer forma, nada sai da minha mente. Pego um copo de vinho. Desisto, pego a garrafa inteira. Nada. Nem uma luz no fim do tunel, a única luz que vejo é no fim do tonel. Ligo a TV, quem sabe alguma nóticia não me inspira? Nada. Que inspiração posso ter sobre esse país arruinado? Cansei de escrever coisas contra tudo e todos. Quero só uma nóticia boa: viajar num mundo cor-de-rosa que eu sei que não existe, mas que de vez em quando é necessário acreditar. MTV. Porcaria. Mas toca uma música: Grey Room. Damien é incrível, mas essa música... me corta todas as possibilidades do rosa. Cinza é a regra. E lá fora chove, uma garoa fina tipica de São Paulo...
Há muito tempo esses predios não me inspiram. A cidade... tá ai um bom tema para um livro. Ou melhor... São Paulo.
O que essa cidade têm que ainda me prende? Será suas luzes? Será essa garoa? Quem sabe as pessoas de mil cores e diferentes etnias. Não. Não é isso.
É o medo.

Medo do estranho, do diferente, do desconhecido...medo, puro medo. Então deveria escrever sobre o medo. Mas como enfrentá-lo?

Quem sabe amanhã eu tenha a resposta para isso (se é que existe resposta). Por hoje o vinho basta. Amanhã eu recomeço.