Os dias

Os dias

Desde quando nasci, fui criada para ser uma gueixa de kioto. Era o desejo de minha mãe. Meu pai preferia que eu trabalhasse com ele nos campos de Hiroshima, mas logo que completei nove anos fui mandada para kyoto, em uma casa de gueixas.
O treinamento era pesado, algo como eu não imaginei que seria, para mulheres tão doces e delicadas.
Fui treinada com extrema dureza, ainda nem me tornando uma gueixa, mas sim uma serva da casa. Onde passei a limpar e prover sustentabilidade para tais mulheres da arte.
Trabalhei como nunca havia trabalhado antes, muito mais pesados que o trabalho nos campos de arrozal, mas me portei bem e bem mais cedo começei o trabalho ardoroso de virar uma destas magnificas mulheres.
Meu primeiro aprenzido foi a música, passei a domina-la como parte de meu corpo, a cada movimento de meus pés um som e uma maestria, por outros anos, passei pelo ardua execução da cerimônia do chá.
Duas de minhas amigas, tinham aulas nesta mesma escola, infelismente minha chance de reencontra-las foi em vão, pois cada uma tinha uma grau de aprendizado maior, algo que eu não tinha alcançado para juntar-me a elas, para isso decidi dedicar-me mais a tal exercicios, apos meus afazeres educacionais, passei a fazer trabalhos ardorosos, a limpeza doméstica, limpava todas as salas, limpava cada objeto espalhado pela casa, para agrada-las, decidi ser tão obediente quando uma verdadeira gueixa, e nao como uma maiko que sou, para que apenas, um momento de seus cílios fossem virados a minha direção, para que pudessem notar-me por alguns segundo apenas, mas todo meu trabalho foi em direção a neve lá fora, minha existência era inutil.
Uns biscoitos de lá, vinha ate minha direção, pelas magnificas mãos de uma jovem gueixa, cujo nome era Fumiko, ninguem era mais bela que esta, seu sorriso era admiravel, de boa aparência e tanta formosura de graça, quando aparecia em público, chamava a atenção de cada homem presente, sua beleza era imensa, mesmo sem maquiagens ou utensílos, era deslumbrante.
Não passei apenas admira-las, mas como querer torna-me melhor que tais, meu processo de aprendizagem durou grande parte de minha infãncia, todo meu sofrimento, minha angústia e ansiedade foram levadas ao ponto extremo de querer torna-me bela e atrente, enfim tornei-me tal.
Não me achava tão bonita, mas simplesmente tive atenção de alguns a minha frente.
Por um minuto tudo parecia ser magnifico, mas a chegada de um periodo devastador estava por vim, não imaginava-me passar por tanta desgraça.
Enfim, meus dias gloriosos foram sumindo como uma gota de agua em um chão extremamente quente, onde vaporizava minha juventude e minha delicadeza.
Em esses dias gloriosos, minhas mãos era como um pedaço de algodão suave e delicada, meus cabelos como um vestidos de seda, pele macia, o que sobrou, apesar de mesma idade, são peles rasgadas, cabelo queimado, rosto ferido e mãos calejadas, gasta por espinhos e da propria terra que corroe pouco a pouco.
Minha historia foi sobreviver, apesar de não querer.
Bombardeios, feridos, mortes, exercitos, fogo, destroços, fome, sede, esse foi o futuro de toda aquela gente?
Alguns anos desde o começo dos bombardeios em Kioto, o lar de mulheres da arte, foram arruinados, alguns bombardeados, algumas amigas mortas, outras fugidas.
Fumiko fugiu para longe, junto de seu amante. Akemi foi morta por soldados estrangeiros, depois de ser estrupada ate a morte, algumas foram mortas pelo incendio na casa. Eu fugi a procura de minha familia; Chichi, Haha, pequenas shimai; Queridos. voltei a Hiroshima, preocupada nada encontrei, minha antiga casa, estava em ruinas, nenhum olhos reconhecia aquele lugar, nem os de minha infancia, apenas encontrei o lugar onde meus pais habitavam por uma conhecida casa ao lado, que não foi tão severamente abalada.
Vivi por lá. Minha vida antes formosa, havia mudado para tragedia, desenvolvi, como uma camponesa, suja, com fome, sem ter onde dormir, ou qualquer tranquilidade, sendo abusada por soldados estrangeiros confundindo-me como prostitutas, não podendo cesssar tudo isso.
A cada hora seguia por um caminho, não consegui sair mais de Hiroshima, pois tudo havia parado, deparava-me com lojas, jardins, agora para orfaõs, mortos e destroços.
Achava que nada mais podia acontecer, mas certo dia, aconteceu algo assustador, para todos.
Varios alarmes tocaram, era um sinal de bombardeio, mas logo acabou o grande barulho.
Em um piscar, uma luz, estranha e osfucante, vermelho, preto, amarelos; fogo, era como uma fornalha, assando pessoas a quilomentros de distãncia, fui jogada para outro lado de um muro, por consequência de um forte vento ardente, que soprava fogo a quatro cantos, meus cabelos pegavam fogo, tudo pegava fogo, a pele de meus dedos estavam viva, olhava-me e não acreditava.
Gritos e desespero era o barulho que soava dos lados. Deformadas pelo fogo, era as pessoas, derretiam como uma vela, quando andava para tras a ardencia era maior, e podia sentir a grande dor, da pele queimando rapidamente, o caminho era seguir para frente, onde havia muita destruição, aos poucos, as pessoas vinham nesta direção, era como os mortos, caindo aos pedaços, queimadas e derretidas, algumas todas juntas, neste momento, pensei que fossem fantasmas, ouvia tantas historias contadas pela minha mãe, que fiquei aterrorizada por um tempo, correndo de tais humanos.
A cada caminho percorrido, mais sofrimentos, pessoas que estavam longe do centro, foram atingida pelo um vento cortante, que derrubava suas casas em cima delas, onde ficavam presos, queimando vagarosamente.
Dias apos dias, era mais sofrimento. Ate hoje, acho que sou uma daqueles desolados, fiquei sem meu pai ou mãe, minhas irmãs desapareceram, torcia apenas para que estivessem vivos, acha-los seria impossivel, havia mais mortos do que vivos.
Por um tempo vaguei, comia o que os homens que jogaram a bomba, jogavam no chão. Nenhum fruto, nem mesmo um mato no chão existia. Voltei para Kioto, a procura de pessoas.
Andei por aquela cidade, e vi que não havia sido atingida por aquela bomba devastadora, fui ate uma fabrica onde meu pai trabalhava quando estava em kyoto, mas não o encontrei, mas muitas figuras conhecidas estavam presentes ali. Encontrei Megumi, pálida e sem frescor de uma gueixa como era, abraçou-me, beijou-me e perguntou como eu estava, contou seu cotidiano nesta cidade, suas irmãs morreram de fome, sua mãe foi atingida por armas. Disse que Fumiko estava na fábrica, seu amante a largou e fugiu para lugares melhores, dentre as máquinas procurei esta moça a quem eu admirava, logo a avistei, por seu belo vestido florido, mas olhando bem, ela estava no chão, pensei que não estava bem, de perto, realmemente não estava bem, morta pelas maquinas modernas, vinda do exterior, seu rosto estava
picoteado, seus dedos ensaguentados, cortados, neste momento, apenas chorei, chorei como sempre.
Desfigurada de sua propria imagem exuberante, invejava seu rosto.
Tempos depois, descobri que minha irmã tinha sido vitIma da bomba em Hiroshima e papai tinha sido morto em Osaka, sobre mamãe e Matsuri, minha outra irmã desapareceram em Hiroshima.
Hoje trabalho em um arrozal em Nagoya, minha vida foi marcada pelas pessoas que vi e não ajudei, ou porque não pude ajudar, assim como as estampas de meu quiimono foram marcadas em meu corpo, assim está minha mente marcada pelas manchas preta da violência. Pensei que tudo havia passado em minha vida inocente, mas pior do que a guerra, vivo hoje, vendo que a violencia é longa e cada vez mais crescente. Vivo com os sintomas que respirei do ar contaminado de Hiroshima, dizem que é radiação, não sei o que é isso, mas sei que estalou-se no corpo de varias pessoas, que acabam morrendo, eu sou apenas uma dessas.
Ao menos deparamo-me com um céu azul e limpo aqui em Nagoya e um silêncio encantador, mas a lembranças do céu vermelho, preto e poluído pelo som de dor vivera pela enternidade. Ainda sonho com mamãe vindo encontrar-me ou de ver novamente as mulheres da arte dançando e tendo seus dias gloriosos, como um dia foram os meus.

Baseado em uma historia real.
Priscila Faria - 03/01/09

Apenas deu vontade de escrever sobre isso, escrevi na epoca em que estava frustada com isso rsrs, acho que foi um assunto importante e a maioria se esqueceu, nao só a historia desta, mas como de muitas, ainda hoje.

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