Capitulo 1: Lentes


De suas lentes côncavas Ed observa seu mundo. E seus olhos castanhos, ofuscados pelo brilho do sol que encontra suas lentes sujas, observam o seu quarto vazio. Pôsteres na parede relembram-no de quem um dia fora, e o espelho, do que hoje havia se tornado. Talvez suas lentes velhas ofuscassem seu verdadeiro caráter. Via-se mais velho e robusto, como vitima da genética tornou-se calvo. Seus olhos castanhos vivos de outrora, enchia-se de rugas por toda fronte. Lembrou-se de tudo que não havia feito, e sentiu saudades. Questionando-se sobre como teria sido se tivesse escolhido outros caminhos, culpando os cientistas e a teoria do caos, bebendo a mesma cerveja amarga de sua juventude. De fato, a vida não tinha sido de toda ruim. Na verdade se casou, teve filhos, foi feliz. Fez o certo. E repetia para si mesmo: “Fiz o certo”. O certo... Qual será o certo? Passou pela vida simplesmente.. Amou e sofreu, e depois, nunca mais amou. Sua vida sempre foi uma série de acomodações...Acostumou-se com o que a vida lhe entregou. Mas agora...Pensava se realmente fizera o certo. Definitivamente, são as lentes. Perspectivas mudam. O universo é todo relativo. Com um canivete, Ed rasga sua mão como quem fatia manteiga para as panquecas. “Será que ainda sinto algo?”. Dói, e a dor parece ser a única coisa real naquele quarto. Olha-se no espelho novamente, como quem espera que a imagem mude. “O que me tornei?” pergunta ao velho calvo no espelho, e não recebe nenhuma resposta. Tirando os óculos, e observando seu reflexo no espelho novamente sabe que a resposta só pode ser: “Eu cresci”.


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